Do blog do Jorge Vieira
Um relatório inédito da Controladoria 
Geral do Estado, órgão do governo do Maranhão, obtido com exclusividade 
pelo jornalista Jorge Vieira, demonstra de forma cristalina as fraudes e
 esquemas em licitações realizados pela Secretaria de Saúde do Estado, 
comandada por Ricardo Murad, cunhado da governadora Roseana Sarney.
O
 extenso relatório da CGE (Relatório AE nº 006/2011-AGAJ/CGE, Processo 
CGE nº 437/2010), assinado pela auditora geral do Estado, Maria Helena 
de Oliveira Costa e os auditores Antonio Carlos Tanus Ferreira, Cleomar 
Almeida e Margarida Brandão, esmiúça todo o esquema nas licitações para 
contratar as empresas para construção dos 72 hospitais do programa Saúde
 é Vida, idealizado por Roseana Sarney e seu cunhado Secretário de Saúde
 Ricardo Murad, e outras obras tocadas pela SES.
Quanto
 às dispensas indevidas de licitação promovidas por Ricardo Murad na 
Secretaria de Saúde, os auditores trazem revelações estarrecedoras, que 
deram à causa prejuízos de mais de cem milhões de reais. Veja-se a 
seguir trecho do relatório inédito, quanto a contratação de empresas 
para a construção dos 72 hospitais do programa Saúde é Vida, jamais 
entregues:
“Irregularidades em contratação por dispensa de licitação:
Contratos
 identificados a seguir, oriundos de dispensa de licitação, sem constar 
dos autos, justificativa fundamentada para a contratação:
Indícios
 de restrição à competitividade, direcionamento do certame, e 
inobservância aos princípios que regem a Administração Pública, 
especialmente os princípios da isonomia e da competitividade.
Constatamos
 a contratação irregular com as empresas Dimensão Engenharia e 
Construções Ltda, ( Contrato 187/09), Lastro Engenharia e Incorporações 
Ltda, ( 185/09), e J.N.S. Canaã Construções e Paisagismo (Contrato 
186/2009), conforme discriminado a seguir, mediante dispensa de 
licitação, fundamentada no art. 24, V, da Lei 8.666/93, no valor de R$ 
57.914.585,23 (cinquenta e sete milhões, novecentos e quatorze mil, 
quinhentos e oitenta e cinco reais e vinte e três centavos), com 
indícios de restrição à competitividade e direcionamento do certame, e 
inobservância aos princípios da isonomia  e da competitividade”.
Em
 suma, o relatório da Controladoria Geral do Estado aponta claramente 
que houve direcionamento da licitação, impedindo que outras empresas 
pudessem participar da construção das obras dos hospitais, beneficiando 
apenas as empresas do esquema montado, causando um rombo de quase 60 
milhões de reais em licitações forjadas.
Emergência fraudada
A
 CGE apontou ainda fraude ocorrida no contrato nº 243/2009/ SES, no 
valor de R$ 5.744.429,00 ( cinco milhões, setecentos e quarenta e quatro
 mil, quatrocentos e vinte e nove reais), com a Proenge Engenharia e 
Projetos Ltda, para elaboração dos projetos e fiscalização das obras de 
construção dos hospitais. Diz a CGE que a contratação, por dispensa de 
licitação por suposta emergência, não apresentou qualquer justificativa 
fundamentada que caracterizasse a urgência, violando o art. 24, V da Lei
 de Licitações.
As dezenas de 
irregularidades ocorridas em licitações da Secretaria de Saúde do 
Estado, segundo o relatório da CGE, não pararam apenas por aí.
Para
 a construção dos tais 72 hospitais alardeados por Roseana Sarney, a 
Controladoria Geral do Estado constatou irregularidades gravíssimas 
quanto à elaboração do projeto básico de cada obra, pois um mesmo 
projeto serviu para todas as unidades, causando um sobrepreço de mais de
 R$ 40 milhões de reais.
Disse a CGE 
que na concorrência 01/2009, cujo objeto é a construção de 64 Unidades 
de Saúde, distribuídos em 6 lotes, com 20 leitos cada unidade 
hospitalar: a realização da concorrência 01/09 se constituiu no mesmo 
objeto para os seis lotes, com utilização de um Projeto Báscio para os 
64 hospitais, em 64 municípios, sem considerar o estudo topográfico de 
cada local.
Em consequência da má 
elaboração do projeto básico, evidenciamos necessidade de adequação do 
projeto inicial com inclusão de serviços adicionais, que gerou 
acréscimos no valor de R$ 28.019.348,08 (vinte e oito milhões, dezenove 
mil, trezentos e quarenta e oito reais e oito centavos), que corresponde
 a 24,67% do valor total contratado”.
A
 CGE também constatou o mesmo esquema no contrato nº 01/2009, cujo 
objeto era a contratação de empresa de engenharia para construção de 8 
Unidades de Saúde, Hospitais com 50 leitos em cada Unidade, em diversos 
municípios. Foi elaborado um único projeto básico para todas as 8 
Unidades, sem que fossem consideradas as situações de cada local. Era 
como se o mesmo tipo de terreno fosse igual em todo local onde seriam 
construídos os 8 hospitais.
Segundo a 
CGE, em decorrência da má elaboração do projeto básico, houve um 
acréscimo ao valor inicialmente contratado, caracterizando de R$ 
14.150.966,60 (quatorze milhões, cento e cinquenta mil, novecentos e 
sessenta e seis reais e sessenta centavos).
Prejuízos aos cofres públicos
A
 CGE cita ainda o contrato nº 298/2009, firmado com a empresa Lastro 
Engenharia Incorporações Ltda, no valor de R$ 4.699.818,30 (quatro 
milhões, seiscentos e noventa e nove mil, oitocentos e dezoito reais e 
trinta centavos), para reforma e adequação do Posto de Assistência 
Médica/PAM Diamante para implantação do ambulatório Médico Especializado
 – AME (12.691/2009). No entanto, segundo o relatório da CGE, a dispensa
 de licitação por suposta emergência, apresenta alegações totalmente 
improcedentes, dando causa a uma emergência forjada, sem amparo legal.
Apenas
 nestes casos, devidamente comprovados e documentados pelo órgão de 
controle interno do próprio governo do Estado, a CGE, houve um prejuízo 
aos cofres públicos de mais de 106 milhões de reais cometidos pelo 
cunhado da governadora, Ricardo Murad.
O
 que chama atenção é que o próprio governo do Estado, através de seu 
órgão de controle interno, a Controladoria Geral do Estado, reconhece e 
relata as diversas irregularidades do secretário Ricardo Murad na 
condução de processos licitatórios,  e o Ministério Público, mesmo 
provocado diversas vezes, não toma qualquer providencia.
Nem
 Ricardo Murad, nem as empresas irregularmente contratadas, tem contra 
si uma única ação sequer, seja de improbidade administrativa, um 
inquérito policial, uma ação criminal. E as mesmas fraudes continuam a 
acontecer impunemente.
Ouvido pela 
reportagem, o deputado Rubens Junior (PC do B), líder da Oposição na 
Assembléia Legislativa, informou que de posse do relatório da CGE 
encaminhará na próxima segunda-feira representação para a Promotoria da 
Probidade Administrativa da Capital, e que espera que o Ministério 
Público apura os fatos e responsabilize quem de direito.
“Agora
 não se trata de denúncia da oposição, mas um órgão do próprio governo 
que reconhece que houve fraude nas licitações”, acrescentou Rubens 
Junior.
 

 
